Dra. Camila Macêdo – Endocrinologista em São Paulo

Nome insulina

A resistência à insulina é uma alteração metabólica muito comum. Ela está ligada ao risco aumentado de diabetes tipo 2, obesidade, doença cardiovascular, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e até problemas no fígado.

Apesar de ser frequente, muitas pessoas nem sabem que têm.

Neste artigo, você vai entender:

  • O que é resistência à insulina
  • Por que ela acontece
  • Quais os sintomas
  • Como é feito o diagnóstico
  • O que pode ser feito para prevenir e tratar

Quem é a dra. Camila Macêdo?

Foto da Dra. Camila Macedo

A Dra. Camila é endocrinologista, especializada no cuidado de pacientes com resistência à insulina. Ela é formada pela UFRN, com seis anos de experiência médica. Realizou residência em Endocrinologia e Metabologia pela USP e tem título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Além do consultório, atua também como preceptora, ajudando na formação de novos médicos. É médica pesquisadora, acompanhando o desenvolvimento de novas medicações.

Na consulta médica, é feita uma análise detalhada dos seus sintomas, histórico familiar, uso de medicamentos, exames anteriores e queixas clínicas.

A avaliação inclui dados do exame físico e, se necessário, a solicitação de exames laboratoriais e de imagem.

Com base nessas informações, é elaborado um plano de tratamento personalizado — que pode envolver uso de medicações, acompanhamento periódico ou investigação mais aprofundada, conforme o caso.

Mas acreditamos que a medicina de verdade vai além dos exames e medicamentos. Ela não se baseia em promessas milagrosas — porque elas não existem. O verdadeiro cuidado é feito com escuta, atenção e planejamento.

É entender como você está hoje e traçar juntos o caminho para: tratar seus problemas de saúde, prevenir doenças futuras, ter hábitos mais saudáveis, envelhecer com saúde e autonomia.

Tudo isso para que você viva mais e com mais qualidade de vida: passar tempo com quem ama, se sentir bem no seu corpo, se dedicar ao trabalho ou simplesmente fazer o que te faz feliz.

Avaliações de pacientes:

O que é insulina?

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas. e que atua em todo o nosso corpo.

Ela tem como principal função baixar a glicose no sangue.

E como ela faz isso? A insulina é o “porteiro” que “abre a porta” dos nossos órgãos e das nossas células para a glicose poder entrar e sair do sangue. O principal destino da glicose são os músculos.

Precisamos da glicose porque ela é o combustível dos nossos órgãos e das nossas células. Precisamos ter sempre um nível estável de glicose no sangue.

  • Se a glicose está muito baixa, se não tem combustível, o “carro” não sai do lugar, o nosso corpo não funciona
  • Se a glicose está muito alta, o combustível “transborda”, esse excesso danifica nossos órgãos e causa problemas no organismo

Nós “enchemos o tanque” quando nos alimentamos. Os alimentos (principalmente os carboidratos) são digeridos e se transformam em glicose. Essa glicose vai ser absorvida no intestino e vai para o sangue.

Quando a glicose chega no sangue, ela fica presa lá. É necessário que a insulina “abra a porta” das células para que ela possa entrar.

O que é resistência à insulina?

Resistência à insulina significa que a insulina não consegue trabalhar da forma correta, não consegue baixar a glicose no sangue.

Na resistência à insulina, essa “porta” está enferrujada, emperrada. O porteiro (insulina) tem dificuldade para abrir a porta.

A glicose começa a se acumular no sangue. O pâncreas percebe esse aumento e responde produzindo mais insulina. A insulina mais alta (mais porteiros) consegue “empurrar a porta” e fazer a glicose entrar nas células. O nível de glicose fica normal no sangue.

Dessa forma, o pâncreas precisa trabalhar mais, produzir mais insulina do que o normal para manter a glicose normal no sangue.

Com o tempo, o pâncreas fica cansado de trabalhar além do normal. E pode não conseguir mais controlar os níveis de açúcar no sangue. É aí que surge o pré diabetes e, posteriormente o diabetes.

Por que a resistência à insulina acontece?

A resistência à insulina tem relação com inflamação no organismo, que impede a insulina de trabalhar corretamente.

Essa inflamação pode ser causada por:

  • Genética (história familiar de diabetes tipo 2)
  • Sobrepeso e obesidade
  • Sedentarismo
  • Alimentação rica em açúcar e ultraprocessados
  • Síndrome dos ovários policísticos
  • Diabetes gestacional
  • Gordura no fígado
  • Inflamações crônicas no organismo
  • Medicações também podem aumentar a resistência à insulina

Esses fatores fazem com que a insulina perca a sua capacidade de agir, dificultando o controle da glicose no sangue.

Qual a relação entre resistência à insulina e diabetes?

A resistência à insulina é a causa do diabetes.

Importante ressaltar que aqui estamos falando do diabetes mellitus tipo 2. Outros tipos de diabetes podem não ter relação com a resistência à insulina.

Assim, a resistência à insulina é um processo contínuo. E quando ela vai ficando mais grave, o diabetes vai se desenvolvendo.

Como assim? Imagine a chuva.

  • Se você imaginou um chuvisco, uma garoa, isso é chuva
  • Se você imaginou uma chuva mais forte, também é chuva
  • E uma tempestade também!
Tabela comparando a chuva com resistência à insulina

A diferença está na intensidade e nas consequências.

A resistência à insulina costuma começar mais “fraca” e, se não fazemos nada para reverter, pode ir se agravando. Nesse processo, o açúcar começa a ficar cada vez mais alto no sangue. E quando ultrapassa determinados níveis, aumenta o risco das complicações relacionadas ao diabetes.

Tabela comparando resistência à insulina, pré diabetes e diabetes

Quais os sintomas da resistência à insulina?

O grande perigo da resistência à insulina é que na maior parte das vezes ela não tem sintomas. Ou os sintomas não são percebidos.

Ela pode causar:

  • Dificuldade para perder peso
  • Ganho de peso abdominal
  • Pele escurecida em regiões como pescoço e axilas (acantose nigricans)

Por isso, é importante estar atento a fatores de risco e procurar avaliação médica.

Quais exames confirmam resistência à insulina?

O diagnóstico envolve a análise dos sintomas, histórico médico, exame físico e exames laboratoriais, como:

  • Glicemia de jejum
  • Hemoglobina glicada
  • Teste oral de tolerância à glicose
  • Perfil lipídico (colesterol total e frações + triglicérides)
  • Avaliação da composição corporal
  • Ultrassom abdominal (em casos de gordura no fígado)

Como podemos identificar a resistência à insulina?

A resistência à insulina pode fazer parte de um quadro maior: a síndrome metabólica.

Ela é diagnosticada quando a pessoa tem três ou mais dos seguintes critérios:

  • Aumento da circunferência abdominal
    • Homens: ≥ 94 cm (alto risco ≥ 102 cm)
    • Mulheres: ≥ 80 cm (alto risco ≥ 88 cm)
  • Pressão alta (≥ 130/85 mmHg)
  • Triglicerídeos altos (≥ 150 mg/dL)
  • Colesterol HDL baixo
    • Homens: ≤ 40 mg/dL
    • Mulheres: ≤ 50 mg/dL
  • Glicose elevada (jejum ≥ 100 mg/dL ou hemoglobina glicada ≥ 5,7%)

Como medir a circunferência abdominal?

  • Use uma fita métrica flexível e inelástica.
  • A pessoa deve estar em pé, relaxada e com a barriga livre de roupas.
  • Posicione a fita na altura do ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca (osso do quadril).
  • A fita deve estar alinhada horizontalmente ao redor do abdômen.
  • Não aperte demais a fita e não prenda a respiração durante a medição.
  • Leia a medida no final de uma expiração normal.
  • Evite medir após grandes refeições ou com a bexiga cheia.

Quais doenças estão associadas à resistência à insulina?

A resistência à insulina está ligada a várias outras doenças importantes:

  1. Diabetes tipo 2
  2. Doença hepática gordurosa não alcoólica (gordura no fígado)
  3. Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
  4. Hipertensão arterial
  5. Colesterol alto
  6. Aterosclerose e risco cardiovascular
  7. Obesidade e doenças metabólicas
  8. Alguns tipos de câncer
  9. Demência e outras doenças do envelhecimento

Quais são os tratamentos para resistência à insulina?

O tratamento envolve principalmente mudanças no estilo de vida. E essas mudanças fazem uma grande diferença!

1. Alimentação

  • Reduzir o consumo de açúcares e carboidratos simples
  • Priorizar alimentos com fibras (frutas, legumes, grãos integrais)
  • Evitar bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos prontos ou até mesmo sucos naturais)
  • Preferir refeições com boa combinação de proteínas e gorduras boas
  • Controlar a ingestão de calorias

2. Atividade física

  • Pelo menos 150 minutos de exercícios aeróbicos por semana
    • Exemplos: caminhada, bicicleta ou natação
  • Treino de força para estimular os músculos a “gastar” a glicose
    • Exemplos: musculação, pilates, exercícios com o peso do próprio corpo

3. Perda de peso

  • Perder de 7% a 10% do peso corporal já ajuda a melhorar a sensibilidade à insulina

4. Medicamentos

  • Em alguns casos, o médico pode indicar o uso de medicamentos

Como prevenir a resistência à insulina?

A boa notícia é que resistência à insulina pode ser prevenida!

Veja os principais hábitos que ajudam a manter a saúde metabólica:

  • Alimentação equilibrada e rica em fibras
  • Prática regular de atividade física
  • Manutenção de um peso saudável
  • Sono de qualidade
  • Evitar cigarro e bebidas alcoólicas
  • Fazer check-ups regulares, principalmente se há histórico familiar de diabetes

A resistência à insulina tem cura?

Não existe “cura” no sentido tradicional, mas a condição pode ser revertida, especialmente se for identificada precocemente.

Com mudanças no estilo de vida, é possível:

  • Reduzir os níveis de insulina
  • Controlar a glicemia
  • Prevenir o desenvolvimento de diabetes tipo 2

Com as mudanças certas, é possível reduzir pela metade o risco de desenvolver diabetes!

Cuidar agora faz diferença no futuro

A resistência à insulina não é uma sentença, mas um alerta.

Entender o que está acontecendo com o seu corpo e agir agora pode evitar problemas maiores no futuro, como o diabetes tipo 2 ou doenças cardiovasculares.

Gostaria de mais informações?

Confere essa entrevista da dra. Camila falando sobre o assunto!

Se você tem histórico familiar, sobrepeso ou outros fatores de risco, agende uma consulta.

Quanto antes o diagnóstico for feito, melhor o resultado do tratamento!

Nota: Este artigo foi escrito em uma linguagem simples e acessível para proporcionar uma leitura mais clara e agradável para quem não é da área da saúde. Também é importante lembrar que cada pessoa é única, e apenas uma consulta médica pode avaliar seu caso de forma individualizada e definir se há necessidade de exames, diagnósticos ou tratamentos específicos. Não substitua a avaliação de um profissional especializado.

As imagens e gráficos são próprios ou podem ser encontrados nos sites Yandex ou Freepik.

Referências:

Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes

Guidelines da American Diabetes Association

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