Dra. Camila Macêdo

Glândula adrenal

A glândula adrenal é pequena, mas tem um papel enorme na regulação de funções essenciais do nosso corpo. Muitas vezes ignorada ou confundida com outras doenças hormonais, ela pode estar por trás de sintomas como cansaço persistente, pressão alta, alterações no peso e até ansiedade.

Neste artigo, você vai entender:

  • Onde fica a adrenal e qual sua função no corpo
  • Quais hormônios a adrenal produz
  • O que é o famoso “incidentaloma adrenal”
  • O que é (e o que não é) fadiga adrenal
  • As doenças mais comuns que afetam essa glândula
  • Quando investigar um nódulo na adrenal
  • E quais exames ajudam a diagnosticar alterações adrenais

Vamos lá?

Quem é a dra. Camila Macêdo?

Foto da Dra. Camila Macedo

A Dra. Camila é endocrinologista, especialidade que cuida das doenças da adrenal.

Ela é endocrinologista formada pela UFRN, com mais de seis anos de experiência médica. Realizou residência em Endocrinologia e Metabologia pela USP e tem título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Além do consultório, atua também como preceptora, ajudando na formação de novos médicos. É médica pesquisadora, acompanhando o desenvolvimento de novas medicações.

Na consulta médica, é feita uma análise detalhada dos seus sintomas, histórico familiar, uso de medicamentos, exames anteriores e queixas clínicas.

A avaliação inclui dados do exame físico e, se necessário, a solicitação de exames laboratoriais e de imagem.

Com base nessas informações, é elaborado um plano de tratamento personalizado — que pode envolver uso de medicações, acompanhamento periódico ou investigação mais aprofundada, conforme o caso.

Mas acreditamos que a medicina de verdade vai além dos exames e medicamentos. Ela não se baseia em promessas milagrosas — porque elas não existem. O verdadeiro cuidado é feito com escuta, atenção e planejamento.

É entender como você está hoje e traçar juntos o caminho para: tratar seus problemas de saúde, prevenir doenças futuras, ter hábitos mais saudáveis, envelhecer com saúde e autonomia.

Tudo isso para que você viva mais e com mais qualidade de vida: passar tempo com quem ama, se sentir bem no seu corpo, se dedicar ao trabalho ou simplesmente fazer o que te faz feliz.

Avaliações de pacientes:

O que é a glândula adrenal e onde ela fica?

A glândula adrenal, também conhecida como supra-renal, é um par de pequenas glândulas, uma acima de cada rim. Apesar do tamanho reduzido (cerca de 4–5 cm), elas são responsáveis por produzir hormônios fundamentais para a nossa sobrevivência.

Cada glândula adrenal é formada por duas partes:

  • Córtex adrenal (parte externa)
  • Medula adrenal (parte interna)

Cada parte produz hormônios diferentes, com funções específicas.

Localização da adrenal

Para que serve a adrenal? Quais hormônios a adrenal produz?

A glândula adrenal atua produzindo vários hormônios importantes, regulando respostas ao estresse, pressão arterial, metabolismo, equilíbrio de água e sal, além de características sexuais secundárias.

Os principais hormônios produzidos pela adrenal são:

Córtex adrenal:

  • Cortisol: conhecido como o hormônio do estresse. Controla o metabolismo, o açúcar no sangue, a pressão arterial e o sistema imunológico.
  • Aldosterona: regula o sódio, o potássio e a pressão arterial.
  • Andrógenos adrenais (DHEA e outros): são hormônios sexuais que atuam principalmente em mulheres, influenciando libido, pelos corporais e massa muscular.

Medula adrenal:

  • Adrenalina e noradrenalina: hormônios liberados em situações de emergência (“luta ou fuga”), aumentando os batimentos cardíacos, a pressão arterial e o estado de alerta.
Glândula/ÓrgãoHormônio(s) Produzido(s)Função Principal dos Hormônios
AdrenaisCórtexCortisolControle do metabolismo, estresse e energia
AldosteronaControle da pressão arterial
AndrógenosHormônios masculinos (parecidos com a testosterona)
MedulaAdrenalina, noradrenalinaResposta ao estresse agudo (luta ou fuga)

Quais são as doenças mais comuns da adrenal?

Existem várias alterações que podem afetar a função da adrenal. Entre as principais estão:

1. Síndrome de Cushing (excesso de cortisol)

  • Causa: produção exagerada de cortisol por um tumor adrenal (ou outras causas hormonais)
  • Sintomas: ganho de peso no rosto e tronco, estrias roxas, fraqueza muscular, insônia, hipertensão, alterações menstruais e osteoporose.

2. Hiperaldosteronismo primário (excesso de aldosterona)

  • Causa: nódulo adrenal ou hiperplasia (crescimento difuso)
  • Sintomas: pressão alta de difícil controle, cãibras, fraqueza, potássio baixo.

3. Feocromocitoma (excesso de adrenalina/noradrenalina)

  • Causa: tumor da medula adrenal
  • Sintomas: crises de hipertensão, dor de cabeça, sudorese, palpitações, ansiedade intensa.

4. Insuficiência adrenal (falta de cortisol – Doença de Addison)

  • Causa: a adrenal para de funcionar, geralmente por autoimunidade, mas há outras causas mais raras
  • Sintomas: cansaço extremo, pressão baixa, perda de peso, náuseas, escurecimento da pele.

5. Hiperplasia adrenal congênita (HAC – falta de cortisol e/ou excesso de andrógenos)

  • Causa: alteração genética que afeta enzimas que produzem os hormônios da adrenal (mais comum: deficiência de 21-hidroxilase)
  • Sintomas: variam de acordo com o tipo. Em formas clássicas, pode haver alteração da genitália em meninas, puberdade precoce em meninos, crescimento acelerado e desequilíbrio hormonal desde o nascimento. Nas formas leves (não clássicas), sintomas podem surgir na adolescência ou vida adulta, como excesso de pelos, acne, irregularidade menstrual e dificuldade para engravidar.

O que é incidentaloma adrenal?

O incidentaloma adrenal é um nódulo descoberto por acaso em exames de imagem (como tomografia ou ressonância) feitos por outros motivos – como para pesquisar pedras nos rins.

Estima-se que até 5% das pessoas tenham um nódulo adrenal e não saibam. Com a progressão da idade, é mais comum que eles apareçam.A maioria desses nódulos é benigna e não funcional (ou seja, não produz hormônios em excesso). No entanto, alguns podem ser funcionantes ou até malignos, por isso precisam ser avaliados com cautela.

Quando um nódulo é encontrado, o endocrinologista irá avaliar:

  • Tamanho (maior que 4 cm merece atenção especial)
  • Comportamento nos exames de imagem
  • Produção hormonal (exames de sangue e/ou urina)

Entre as possíveis causas estão:

1. Adenoma adrenal não funcional (benigno)

  • O mais comum (representa a maioria dos casos)
  • Não produz hormônios em excesso
  • Risco de câncer muito baixo
  • Geralmente não requer cirurgia, apenas acompanhamento

2. Adenoma funcional (produtor de hormônios)

  • Pode produzir cortisol (Síndrome de Cushing), aldosterona (Hiperaldosteronismo primário) ou androgênios
  • Pode causar sintomas como pressão alta, diabetes, ganho de peso, acne, irregularidade menstrual
  • Necessita tratamento ativo, às vezes cirurgia

3. Feocromocitoma

  • Tumor da medula adrenal que produz adrenalina e noradrenalina
  • Causa crises de hipertensão, palpitações, suor excessivo e ansiedade
  • Sempre precisa ser tratado com cirurgia, após preparo adequado

4. Carcinoma adrenal (câncer da adrenal)

  • Muito raro, mas grave
  • Costuma ter crescimento rápido, tamanho maior que 4–6 cm e alterações suspeitas na imagem
  • Pode produzir múltiplos hormônios ou ser não funcional
  • Exige avaliação oncológica e cirurgia oncológica especializada

5. Metástases de outros tumores

  • Alguns cânceres (como pulmão, mama, rim e melanoma) podem se espalhar para a adrenal
  • Geralmente em pessoas com histórico de câncer prévio
  • Requer investigação para confirmar a origem

6. Hiperplasia adrenal bilateral

  • Aumento difuso da adrenal, sem nódulo definido
  • Pode estar associada a hiperaldosteronismo ou síndrome de Cushing
  • Pode ser unilateral ou bilateral
  • Diagnóstico envolve testes hormonais específicos

7. Cistos adrenais

  • Lesões com conteúdo líquido, geralmente benignas
  • Não produzem hormônios e raramente precisam de cirurgia
  • Apenas acompanhados por imagem

8. Miolipoma adrenal

  • Tumor benigno formado por gordura e tecido da medula óssea
  • Visualmente típico em exames de imagem (densidade muito baixa)
  • Não funcional e, na maioria dos casos, não precisa de cirurgia

Adenoma na adrenal: o que fazer?

Se você descobriu que tem um nódulo adrenal, não se desespere. Na maior parte dos casos ele será um adenoma da adrenal.

Ele é um tumor benigno e geralmente não atrapalha a produção dos hormônios, mas precisa ser avaliada por um endocrinologista para ter certeza:

  • Se o nódulo produz hormônios em excesso
  • Se existe risco de crescimento ou malignidade
  • Se é necessário apenas acompanhar com exames, usar medicamentos ou realizar cirurgia

O protocolo de acompanhamento vai depender do tamanho, tipo e comportamento do nódulo nos exames.

nódulo na glândula adrenal

Existe mesmo “fadiga adrenal”?

O termo “fadiga adrenal” é muito usado na internet, mas não é um termo médico reconhecido.

A teoria diz que o estresse crônico faria a adrenal “entrar em exaustão” e parar de produzir cortisol. No entanto, os estudos mostram que isso não ocorre de forma fisiológica.

O que pode existir é:

  • Insuficiência adrenal verdadeira, que é uma doença grave e rara, com uma causa bem definida (e não por causa do estresse), com diagnóstico e tratamento específicos.
  • Ou ainda quadros de estresse crônico, depressão, má qualidade do sono ou burnout, que causam cansaço, ansiedade e baixa energia — mas sem envolvimento direto da glândula adrenal.

Se você se sente cansado(a) o tempo todo, o ideal é procurar um endocrinologista para avaliar de forma completa, identificar a causa correta e evitar tratamentos perigosos baseados em desinformação.

Qual a relação entre a adrenal e os remédios com corticoide?

A adrenal é a responsável por produzir cortisol, que é um hormônio essencial para o controle do estresse, da pressão arterial, da glicose e do metabolismo em geral.

Os medicamentos à base de corticoide (como prednisona, dexametasona, hidrocortisona, betametasona, entre outros) imita esse hormônio natural. Por isso, quando usados por longos períodos ou em altas doses, eles podem “enganar” o corpo, fazendo com que a adrenal pare de produzir cortisol naturalmente. Isso acontece porque o remédio mantém níveis altos do cortisol no sangue.

Esse fenômeno é chamado de supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

E, em alguns casos, quando o corticoide é interrompido de forma abrupta, a pessoa pode ter sintomas graves de insuficiência adrenal, como fraqueza intensa, queda de pressão, náuseas e até risco de vida.

Por isso, é essencial:

  • Usar corticoides apenas com indicação médica
  • Evitar suspender por conta própria
  • Fazer o desmame (redução gradual da dose) conforme orientação do endocrinologista ou especialista

Apesar de serem medicações “comuns”, é importante saber dos riscos relacionados ao uso de corticoides.

Além disso, pacientes que fazem uso prolongado ou em altas doses de corticoides precisam avaliar o funcionamento da adrenal, especialmente se forem submetidos a cirurgias, infecções ou situações de estresse físico intenso — momentos em que o corpo precisa de mais cortisol. E também precisam ser avaliados quanto aos prejuízos do excesso de cortisol.

Dúvidas frequentes dos pacientes sobre a glândula adrenal

“Cansaço pode ser problema na adrenal?”

Pode — especialmente na insuficiência adrenal. Mas essa é uma causa muito rara! Na maior parte das vezes, encontramos outra causa: problemas na tireoide, anemia, estresse crônico, distúrbios do sono, menopausa, falta de vitaminas ou depressão. É preciso investigar.

“Todo nódulo na adrenal é câncer?”

Não. A maioria dos nódulos é benigna. O risco de malignidade é maior em nódulos maiores que 4 cm, com características suspeitas nos exames.

“Existe exame para ver se a adrenal está funcionando?”

Sim. Os principais exames incluem dosagens de cortisol, aldosterona, renina, metanefrinas e ACTH, além de testes dinâmicos específicos. Porém, esses exames só devem ser solicitados se realmente for necessário. Não são exames que devem ser feitos de rotina, sem sintomas compatíveis.

“Preciso fazer tomografia ou ultrassom para ver a adrenal?”

Geralmente não. Sempre que há suspeita de problemas na adrenal, o primeiro passo é fazer exames hormonais. Se houver alteração nos hormônios, podemos prosseguir para exames como a tomografia. O ultrassom não é indicado para avaliar a adrenal – ele não é capaz de ver todos os detalhes necessários.

“Nódulo adrenal dá sintoma?”

Geralmente não. A não ser que produza hormônios em excesso, ou cresça a ponto de comprimir estruturas ao redor. Por isso, a investigação é essencial mesmo sem sintomas.

Tem alteração na adrenal?

A glândula adrenal é essencial para o equilíbrio do corpo, mas muitas vezes suas doenças passam despercebidas ou são mal compreendidas. Um simples nódulo detectado por acaso pode ou não representar risco — e só uma avaliação cuidadosa poderá dizer.

O mais importante é lembrar que, com acompanhamento médico especializado, a maioria dos distúrbios da adrenal tem tratamento eficaz e seguro.

Agende uma consulta!

Nota: Este artigo foi escrito em uma linguagem simples e acessível para proporcionar uma leitura mais clara e agradável para quem não é da área da saúde. Também é importante lembrar que cada pessoa é única, e apenas uma consulta médica pode avaliar seu caso de forma individualizada e definir se há necessidade de exames, diagnósticos ou tratamentos específicos. Não substitua a avaliação de um profissional especializado.

As imagens e gráficos são próprios ou podem ser encontrados nos sites Yandex ou Freepik.

Referências:

Insuficiência adrenal

Guideline: Incidentaloma Adrenal

Endocrine Society

Leia também:

10 coisas que você precisa saber sobre adrenal

Associação Brasileira Addisoniana

10 coisas que você precisa saber sobre o endocrinologista

Emagrecer: Porque é tão difícil?