
Você já ouviu falar das paratireoides? Apesar do nome parecido com a tireoide, elas têm funções completamente diferentes — e podem causar alterações silenciosas, como cálculos renais, fraqueza óssea e alterações nos níveis de cálcio no sangue.
Neste artigo, você vai entender de forma simples e confiável:
- Onde ficam as paratireoides e para que servem
- O que significa um PTH alto no exame de sangue
- Quais são as doenças mais comuns das paratireoides
- Qual a relação entre paratireoide e vitamina D
- O que fazer se apareceu um nódulo na paratireoide
- Como as paratireoides podem afetar os rins
- Quando procurar um endocrinologista
Vamos descomplicar esse tema?
Quem é a dra. Camila Macêdo?

A Dra. Camila é endocrinologista, especialidade que cuida de pacientes com osteoporose, alteração dos níveis de cálcio e problemas nas paratireoides.
Ela é endocrinologista formada pela UFRN, com mais de seis anos de experiência médica. Realizou residência em Endocrinologia e Metabologia pela USP e tem título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Além do consultório, atua também como preceptora, ajudando na formação de novos médicos. É médica pesquisadora, acompanhando o desenvolvimento de novas medicações.
Na consulta médica, é feita uma análise detalhada dos seus sintomas, histórico familiar, uso de medicamentos, exames anteriores e queixas clínicas.
A avaliação inclui dados do exame físico e, se necessário, a solicitação de exames laboratoriais e de imagem.
Com base nessas informações, é elaborado um plano de tratamento personalizado — que pode envolver uso de medicações, acompanhamento periódico ou investigação mais aprofundada, conforme o caso.
Mas acreditamos que a medicina de verdade vai além dos exames e medicamentos. Ela não se baseia em promessas milagrosas — porque elas não existem. O verdadeiro cuidado é feito com escuta, atenção e planejamento.
É entender como você está hoje e traçar juntos o caminho para: tratar seus problemas de saúde, prevenir doenças futuras, ter hábitos mais saudáveis, envelhecer com saúde e autonomia.
Tudo isso para que você viva mais e com mais qualidade de vida: passar tempo com quem ama, se sentir bem no seu corpo, se dedicar ao trabalho ou simplesmente fazer o que te faz feliz.
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O que são as paratireoides e onde elas ficam?
As paratireoides são quatro pequenas glândulas do tamanho de uma lentilha, localizadas atrás da glândula tireoide, no pescoço. Apesar de estarem próximas da tireoide, não têm relação com o metabolismo do TSH ou dos hormônios tireoidianos.
A função principal das paratireoides é produzir o hormônio PTH (paratormônio), responsável por regular os níveis de cálcio e fósforo no sangue.

Para que serve o paratormônio (PTH)?
O PTH é o hormônio-chave na manutenção do cálcio no organismo. Ele atua em três frentes distintas:
- Nos ossos: estimula a liberação de cálcio armazenado
- Nos rins: reduz a eliminação de cálcio na urina
- No intestino: aumenta a absorção de cálcio, com a ajuda da vitamina D ativa
Ou seja, o PTH é essencial para que o corpo mantenha o cálcio dentro da faixa ideal, já que o cálcio participa de funções vitais como contração muscular, batimento cardíaco, condução dos nervos e saúde óssea.
O PTH trabalha em conjunto com a vitamina D.

PTH alto no exame: o que isso significa?
Um PTH elevado no exame de sangue pode indicar que as paratireoides estão trabalhando mais do que deveriam. Isso pode acontecer por diferentes motivos, sendo os mais comuns:
- Hiperparatireoidismo primário: quando uma ou mais paratireoides têm um adenoma (nódulo benigno) e produzem PTH em excesso
- Hiperparatireoidismo secundário: quando o corpo estimula as paratireoides a produzirem mais PTH, em resposta a baixa vitamina D, doenças dos rins ou falta de cálcio na alimentação
- Hiperparatireoidismo terciário: mais raro, ocorre em pacientes com doença dos rins avançada, com perda do controle da produção de PTH
É importante avaliar o PTH junto com o cálcio, fósforo, vitamina D e função dos rins para entender a causa do aumento.
Quais são as doenças mais comuns da paratireoide?
As doenças da paratireoide geralmente envolvem a produção anormal do hormônio PTH, que pode estar em excesso ou, mais raramente, em falta. A seguir, as alterações mais frequentes:
1. Hiperparatireoidismo primário
É a causa mais comum de cálcio alto no sangue.
Acontece quando uma ou mais paratireoides começam a produzir PTH em excesso sem motivo, geralmente por um adenoma (nódulo benigno).
Pode causar fraqueza, dores musculares, osteoporose e pedras nos rins.
O tratamento costuma ser cirúrgico para remoção das paratireoides, com boa taxa de cura.
2. Hiperparatireoidismo secundário
Ocorre quando o PTH está alto em resposta a outra condição, como deficiência de vitamina D, doença dos rins crônica ou falta de cálcio na alimentação.
Nesse caso, o corpo “sente” que há pouco cálcio ou pouca vitamina D e estimula a produção de PTH.
O tratamento é feito com a correção da causa (vitamina D, aumentar o consumo de cálcio na alimentação ou suporte renal).
3. Hiperparatireoidismo terciário
Mais raro, acontece em pacientes com doença dos rins crônica avançada, quando o corpo perde o controle da produção de PTH mesmo após correções.
Pode ser acompanhado com algumas medicações ou exigir cirurgia para remoção das paratireoides.
4. Hipoparatireoidismo
O oposto das demais: ocorre quando há falta de PTH, geralmente após cirurgia na tireoide ou por doenças autoimunes.
Pode causar cãibras, formigamento, espasmos musculares e risco de convulsões, por causa da queda do cálcio no sangue.
O tratamento envolve suplementação de cálcio e vitamina D ativa (calcitriol), com acompanhamento regular.

Quando é necessário fazer cirurgia da paratireoide?
A cirurgia da paratireoide (chamada paratireoidectomia) é indicada principalmente nos casos de hiperparatireoidismo primário, quando uma ou mais glândulas produzem PTH em excesso, resultando em cálcio alto no sangue.
Nem todo paciente com PTH alto precisa operar — mas a cirurgia é o único tratamento curativo nos casos em que a doença está compromtendo a saúde.
O aumento do PTH ao longo do tempo pode comprometer a qualidade do osso, porque vai retirando o cálcio de lá aos poucos. O excesso de cálcio nos rins pode formar pedras ou fazer com que eles funcionem menos.
As principais indicações de cirurgia são:
- Cálcio no sangue persistentemente alto (acima de 1 mg/dL do limite superior)
- Cálculo renal (pedra nos rins)
- Ossos mais fracos que o normal (osteoporose ou fraturas)
- Idade abaixo de 50 anos
- Função dos rins comprometida
Em algumas situações, mesmo sem sintomas, o risco futuro de complicações justifica a cirurgia. O procedimento é realizado por cirurgião de cabeça e pescoço experiente, com grande chance de cura e melhora na qualidade de vida.
Já no hiperparatireoidismo secundário, o tratamento deve ser clínico, com reposição de vitamina D ou cálcio, a depender do caso.
Quando é necessário fazer ultrassom da paratireoide?
O ultrassom da paratireoide é um exame importante para ajudar a localizar nódulos ou glândulas aumentadas que possam estar produzindo PTH em excesso. No entanto, ele não é o primeiro exame a ser feito.
Antes do ultrassom, o mais importante é avaliar os níveis de:
- PTH (paratormônio)
- Cálcio total e ionizado
- Vitamina D
- Função renal (creatinina, fósforo, urina 24h)
O ultrassom da paratireoide é geralmente indicado quando:
- Há confirmação laboratorial de hiperparatireoidismo primário
- Existe cálcio elevado no sangue com PTH também alto
- Foi detectado um nódulo na tireoide que pode estar relacionado à paratireoide
- Está sendo feito planejamento cirúrgico para remoção da paratireoide doente
É importante saber que o ultrassom nem sempre consegue localizar a paratireoide alterada, especialmente se ela estiver fora da posição habitual ou for muito pequena. Por isso, muitas vezes é necessário complementar a investigação com cintilografia com sestamibi ou outros exames de imagem.
Ou seja: o ultrassom é útil, mas não substitui os exames laboratoriais e deve ser solicitado no momento certo, com base em uma avaliação médica completa.
Nódulo na paratireoide no ultrassom: devo me preocupar?
Se o ultrassom apontou um nódulo em paratireoide, é importante investigar se ele está produzindo PTH em excesso. A maioria dos nódulos paratireoideos é benigna (adenomas), mas podem causar sintomas e alterações importantes no organismo.
O primeiro passo é avaliar exames de sangue para entender se o PTH e o cálcio estão normais, além de exame de urina 24h para cálcio.
Se houver alterações, o endocrinologista pode pedir exames como:
- Cintilografia com sestamibi, um exame parecido com um raio-X mas que precisa de um contraste específico, para localizar a glândula hiperfuncionante
- Tomografia do pescoço

Sintomas das doenças da paratireoide
Nem sempre os problemas nas paratireoides causam sintomas evidentes. Muitas vezes são descobertos por acaso em exames de rotina. Mas quando os sintomas aparecem, podem incluir:
- Fraqueza muscular
- Dor muscular e articular
- Cálculos renais (pedras nos rins)
- Osteopenia ou osteoporose
- Fraturas espontâneas
- Calcificações
- Cãibras, formigamento, espasmos musculares
- Convulsões
- Arritmias
Os sintomas são muitas vezes confundidos com outras doenças, por isso o acompanhamento com endocrinologista é fundamental para o diagnóstico correto.
Qual a relação entre paratireoide e vitamina D?
A vitamina D ajuda o intestino a absorver cálcio. Quando seus níveis estão baixos, o corpo entende que há “pouco cálcio disponível” e as paratireoides passam a produzir mais PTH, mesmo que o cálcio no sangue ainda esteja normal.
Essa situação é chamada de hiperparatireoidismo secundário por deficiência de vitamina D, e é reversível com suplementação adequada.
Por isso, ao investigar um PTH alto, é essencial sempre dosar a vitamina D e, se necessário, corrigir a deficiência antes de concluir o diagnóstico.
Atenção: Vitamina D em excesso pode causar toxicidade, com risco de cálculo renal e problemas no cálcio. Não use por conta própria — mesmo sendo uma “vitamina”, ela é um hormônio potente e precisa de acompanhamento.
Qual a relação entre paratireoide e os rins?
As paratireoides estão intimamente ligadas à função dos rins. Isso acontece porque o PTH:
- Reduz a eliminação de cálcio pela urina
- Estimula os rins a ativarem a vitamina D
- Altera os níveis de fósforo
Em pacientes com doença dos rins crônica, a produção do PTH pode aumentar progressivamente, levando ao hiperparatireoidismo secundário ou terciário.
Além disso, o excesso de cálcio no sangue pode se acumular nos rins, formando pedras (cálculos) ou atrapalhar o seu funcionamento. Por isso, pessoas com histórico de cálculos renais recorrentes devem investigar alterações no PTH e no cálcio.
Qual é a relação entre paratireoide e os ossos?
As paratireoides têm uma relação direta e muito importante com a saúde dos ossos. Isso acontece porque o PTH controla os níveis de cálcio no sangue. E onde o corpo armazena a maior parte do cálcio? Nos ossos.
Quando o PTH está em níveis normais, ele ajuda a manter o equilíbrio entre o cálcio que “entra” e “sai” dos ossos.
Mas quando está elevado por muito tempo, como acontece no hiperparatireoidismo, esse equilíbrio se perde.
O corpo passa a “retirar” mais cálcio dos ossos para manter o cálcio do sangue estável, o que pode levar a:
- Perda de densidade óssea (osteopenia ou osteoporose)
- Fragilidade do osso e risco de fraturas
- Em casos mais graves, uma condição chamada osteíte fibrosa cística, hoje rara
Por isso, pacientes com PTH alto devem sempre fazer uma avaliação da saúde óssea com densitometria óssea e, em alguns casos, exames mais específicos como radiografias ou marcadores no sangue de remodelação óssea.
A boa notícia é que, quando a causa do PTH alto é identificada e tratada corretamente (com cirurgia ou controle clínico), os ossos podem se recuperar ao longo do tempo.

Dúvidas frequentes sobre paratireoide
“Paratireoide tem a ver com tireoide?”
Apesar do nome, são glândulas diferentes. A tireoide regula o metabolismo, enquanto as paratireoides controlam o cálcio no sangue. Elas estão localizadas no pescoço e muito próximas umas às outras. Por esse motivo, cirurgias da tireoide podem acabar “sem querer” machucando a paratireoide. E, com certa frequência, quando há problema em uma delas, precisamos avaliar a outra também.
“Nódulo na paratireoide é câncer?”
Na maioria dos casos, não. O mais comum é ser um adenoma benigno. Câncer de paratireoide é extremamente raro.
“Tenho cálcio alto, isso é sempre problema?”
Não necessariamente. Mas o cálcio elevado precisa ser investigado com dosagem de PTH, pois pode indicar um hiperparatireoidismo.
“É possível viver com PTH alto?”
Depende da causa. Em alguns casos, especialmente nos secundários, o PTH elevado é reversível. Já nos casos primários, pode haver indicação de cirurgia – mas a decisão é sempre individualizada.
Você tem alterações na paratireoide, PTH ou no cálcio?
As paratireoides têm uma função discreta, mas vital para a saúde dos ossos, dos rins e do metabolismo do cálcio. Alterações no PTH e no cálcio, muitas vezes silenciosas, podem causar sintomas importantes e devem ser investigadas com atenção.
O diagnóstico correto, baseado em exames hormonais, avaliação de imagem e histórico clínico, é o primeiro passo para o tratamento adequado.
Se você teve alteração nos exames de PTH ou cálcio, está com pedras nos rins de repetição, osteoporose precoce ou descobriu um nódulo na paratireoide, não adie a avaliação. Agende a sua consulta!
Nota: Este artigo foi escrito em uma linguagem simples e acessível para proporcionar uma leitura mais clara e agradável para quem não é da área da saúde. Também é importante lembrar que cada pessoa é única, e apenas uma consulta médica pode avaliar seu caso de forma individualizada e definir se há necessidade de exames, diagnósticos ou tratamentos específicos. Não substitua a avaliação de um profissional especializado.
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Referências:
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